Comentários sobre um filme


Nesse post eu faço alguns comentários sobre o filme El Camino de San Diego, presente na mostra. Por isso link aqui.

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+ Cine-pitacos porteños

(fotos do making off de De quien es el portaligas?)

Bem, vamos falar de outros filmes que rolam na Mostra. Entrem no site e confiram vocês mesmos. Ainda dá tempo de assistir tudo. Os filmes exibidos na primeira semana no CCBB de Brasília voltarão na semana seguinte. E ainda teremos mostra no Rio de Janeiro. Por uma questão de ordem, portanto, continuo acompanhando a programação, mesmo que já passada.

CCBB Brasília
(08/09 a 27/09)

Dia 08/09 - 3.Feira

16:30 - El Jefe ****
18:30 - Prisioneros de una noche *****
20:30 - Rey Muerto *** + Bolívia *****

Dia 09/09 - 4.Feira

16:30 - La Cifra Impar *****
18:30 - Los Jovenes Viejos *****
20:30 - La Sonambula ****

Dia 10/09 - 5.Feira

16:30 - Mundo Grúa ****
18:30 - Pizza, Birra, Faso *****
20:30 - De quien es el portaligas? *****

Lembrando, minhas notas, sempre pessoalíssimas, variam de 1 a 5 estrelas. Nesses três dias de mostra, como vocês vêem, só tem obras-primas. Como são muitos filmes e quero falar sobre todos, desculpem-me a brevidade. Começo pelo primeiro dia.

El Jefe

É um dos primeiros (senão o primeiro) filmes da fase "Nuevo Cine" do cinema argentino, ocorrida nos anos 60. Traz já todas as características marcantes da fase, mas ainda com um leve tom ingênuo (por isso dei 4 estrelas, não 5). É a história de um jovem pertencente a uma família de aristocratas empobrecidos que se junta a uma gangue de estelionatários. Tem muita ação, desencadeada num ritmo magistral. Tem grande elenco, com os melhores atores da época, incluindo aí o Leonardo Favio em início de carreira.

Prisioneros de la Noche

Mais uma obra-prima divina de David José Kohon, que participa da mostra com outro filme, o Tres Veces Ana. Conta a história de um jovem, que trabalha como "grupí", empregado de leilão que finge interesse para elevar o preço dos artigos, durante os finais de semana, e carregador de feira nos dias úteis, e de uma dançarina profissional, ou melhor, professora de tango numa Academia. Tem mistério, amor e tragédia, uma combinação tipicamente argentina.

Rey Muerto

Um dos primeiros curta-metragem de Lucrecia Martel, a cineasta argentina famosa por El Pantano, Niña Santa e Mujer sin Cabeça (recém lançado). O filme, de 12 minutos, é um exercício de linguagem muito envolvente, e, como quase sempre ocorre na cinematografia porteña, possui uma boa trama por trás: a mulher de um traficante resolve abandoná-lo.

Bolívia

Aborda o delicado tema da imigração de forma extremamente objetiva. Boliviano vai trabalhar (ilegalmente) num bar da periferia de Buenos Aires, frequentado por taxistas. Um desses taxistas, cheio de problemas com dívidas e drogas, acaba se desentendendo com o novo funcionário. Mais uma obra prima do premiado diretor Adrián Caetano, um dos nomes porteños com mais projeção internacional.

La Cifra Impar

Inspirado numa história de Borges, o filme é outro experimento poético de Manuel Antin (o outro, também na mostra, é Circe, este baseado num conto de Cortázar e com participação do próprio no roteiro). Mas talvez a palavra experimento não seja adequada, porque é um filme bastante maduro, com grande elenco. É um filme intimista e perturbador. Deu trabalho para a turma de legenda, porque ao que parece existem várias montagens diferentes do filme e a cópia que recebemos em DVD era diferente da pelicula. Mas resolvemos tudo.

Los Jovenes Viejos

É um filme tipicamente dos anos 60. Conta a história de três jovens que conhecem três garotas. As personagens são construídas com maestria. Traz a nata dos atores da época, como Maria Vaner e Alberto Argibay, entre outros. A história é apenas aparentemente simples. Na realidade, trata-se de uma trama psicológica muito inteligente e sutil, mostrando os contrastes e dilemas de uma geração. É talvez um dos filmes mais bem realizados da história do cinema latino-americano.

La Sonambula

É uma ficção científica moderna, de 1998. É muito bem feito, indicando que os argentinos, de fato, desenvolveram know-how suficiente para ameaçar o cinemão holliwoodiano até na sua temática mais exclusiva. Aqui no Brasil, só assisti experiências escrachadas de filmes de ficção científica. Esse filme, de Fernando Spiner, além de ser bem feito, e verossímil (a qualidade mais complicada para um filme com essa temática), tem um texto muito inteligente, repleto de mensagens e subtextos.

Mundo Grúa

Obra-prima de um dos xodós internacionais do cinema argentino, Pablo Trapero. O filme conta a história de um desempregado, que arruma emprego para trabalhar numa grúa. A beleza e a dignidade do trabalhador, que inclusive pertenceu a um grupo musical relativamente famoso num passado longinquo, surpreendem e apaixonam. É um filme triste e terrivelmente belo, mais uma vez a tradicional combinação trágica da terra do tango, trilha sonora do filme. Filmado em preto-branco, o longa é de 1999.

Pizza, Birra, Faso

É o filme cujo nome inspirou a mostra. Primeiro trabalho de Adrián Caetano, o filme conta a história de jovens marginais de Buenos Aires, suas peripécias e desventuras. Tem muita ação e um ritmo alucinante.

De quien es el portaligas?

Ah, este é impagável. Dirigido pela figuraça Fito Páez, é um dos filmes mais festejados da mostra. Com certeza é o mais divertido. Estreado em 2007, o filme é a brincadeira de uma mente genial, mas, como todo filme argentino, possui uma trama bem articulada e envolvente, além de um elenco fabuloso de atrizes lindas e talentosas. O filme tem um site muito completo, um dos melhores do gênero que já vi.

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Cine-pitacos porteños

(As protagonistas do filme Tan de Repente)

Como fui obrigado a assistir, por diversas vezes, os filmes argentinos exibidos na mostra Do Novo ao Cinema Argentino: Birra, Crise e Poesia, sinto-me na obrigação de tecer alguns comentários sobre os mesmos, apontando os que mais me chamaram a atenção. Como a mostra ainda rola este domingo 6 de setembro em São Paulo, abordo primeiramente os filmes a serem exibidos neste último dia, no Centro Cultural Banco do Brasil da capital paulistana.

Recapitulando, neste domingo serão exibidos os seguintes filmes em São Paulo. As estrelinhas indicam minha nota, pessoalíssima, de 1 a 5.

13:00 - Los Inundados ***
15:00 - El Árbol *
17:00 - Tan de Repente ***
19:00 - Tres Veces Ana *****

Começo falando sobre o que mereceu 5 estrelas. Tres Veces Ana, de 1961, dirigido e escrito por David José Kohon, é um dos filmes, a meu ver, mais importantes dessa mostra. Digo mais importantes porque é um dos que mais me impressionou, pela qualidade do texto, dos diálogos, da fotografia, da poesia e, sobretudo, pelo caráter modernamente cosmopolita e angustiado do filme.

São três histórias unidas em torno de uma personagem feminina chamada Ana (Maria Vaner). No primeiro episódio, A Terra, Ana é uma empregada de uma lojinha de brinquedos que se envolve com um modesto executivo (Luis Medina Castro) de uma fábrica. Eles se apaixonam, e iniciam uma vida sexual nos hotéis baratos de Buenos Aires. Até que ela engravida e ele a convence a praticar um aborto. Os personagens são construídos com um realismo magistral, numa demonstração de invejável domínio técnico.

A segunda parte, intitulada O Ar, traz uma Ana completamente distinta. É uma moça depravada que, junto a um grupo igualmente "liberal", passa férias longe da família num balneário portenho. Todos dividem um quartinho apertado alugado por um austríaco. A história inicia com a chegada de dois estudantes ao quartinho, convidados pelo anfitrião. Um dos estudantes é interpretado pelo famoso galã da época, Alberto Argibay, no papel de um estudante de doutorado em matemáticas, um jovem cuja pureza de espírito servirá de contra-ponto ao descaramento dos outros.

Na última parte, Ana é uma alucinação esquizofrênica do jovem Monito (Walter Vidarte), solitário e sonhador diagramador de um jornal de Buenos Aires. Essa trama é apimentada pela presença do cínico e espirituoso Renner, crítico de cinema do jornal, interpretado por outro grande do "nuevo cine argentino", Lautaro Murúa.

*

O filme Los Inundados é uma fábula social, também bastante realista, sobre uma família de pobres argentinos, moradores de uma favela inundada. O governo cede vagões de trem e um terreno no centro da cidade para eles se instalarem. Ironicamente, a vida deles melhora sensivelmente após a inundação, porque sua existência ganha visibilidade na sociedade. Por um engano, o vagão onde eles haviam se instalado acaba atrelado a um trem de carga e eles partem para uma viagem de sonhos por todo o país.

*

Tan de Repente é a história de duas lésbicas barra pesada, mas inteligentes e divertidas, que convencem uma terceira garota, até então infeliz e solitária, a experimentar uma outra opção sexual. É um filme moderno, feito com recursos muito simples, mas com técnicas relativamente maduras.

*

A Árvore é um filme bastante experimental, bastante lento e com pouquíssimos diálogos. Tem uma fotografia extremamente minimalista que pode agradar a alguns aficcionados.

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